Parte do que eu sou hoje se deve a algumas reflexões sobre esse episódio.
Eu e uns amigos estávamos planejando uma festa na casa de uma amiga. Porém a festa só iria acontecer se todos confirmassem presença. Uma criatura muito querida por nós disse que não iria. Talvez nós não tenhamos sido muito compreensivos, até porque queríamos nos encontrar e tudo mais. De qualquer forma, essa reunião não aconteceu.
Então, dias depois, ao me encontrar com a ausente criatura em questão eu não pude resistir a provocá-la. Na primeira oportunidade, iniciei o seguinte diálogo:
Eu - Mas que tu é fuleira, tu é.
Ela - Eu não sou fuleira não.
Eu - Claro que é... Morgou a festinha e tudo mais.
Ela - Eu não podia ir, já expliquei e tudo. Além disso, quando é que eu fui fuleira?
Eu - Quer que eu faça uma lista?
Depois disso, ela ficou irritada o suficiente para parar de falar e começar a me bater. E doeu o suficiente pra eu pensar que estava certo. Não que a suposta lista fosse sair muito grande, nem era o caso. Mas ela ter perdido o controle diante da minha suposta certeza, no mínimo sugere que ela começou a imaginar o que é que eu poderia dizer. E que tinha receio de que eu dissesse algo que a comprometesse.
Na verdade a única coisa que eu havia pensado em fazer era criticar um pouco da sua personalidade. Não sei se ela percebe (eu acho que sim), mas muita gente tem muito carinho por ela. Quando, de alguma forma, alguém a desagrada ela simplesmente trata (pelo menos naquele tempo) a pessoa com uma frieza quase que inumana. Como se realmente desprezasse a pessoa (não que seja sempre o caso). Quando se faz isso com um imbecil qualquer, é perfeitamente compreensível. Além de um mecanismo de defesa muito eficiente. Mas quando se faz isso com alguém que gosta de você, é no mínimo cruel. Se faz isso sabendo dos sentimentos da pessoa, você está sendo perversa.
Por já ter testemunhado algumas várias vezes esse lado cruel dela, eu poderia citar alguns episódios nos quais ela o revela. Seria essa a maior parte da lista. Devo admitir que fui cruel ao insinuar algo assim. Mas o fato é que de vez em quando eu sentia na pele o quanto ela conseguia ser injusta. Enquanto ela era a pessoa que demonstrava sua indiferença, muitas vezes era eu quem era atingido. Mas ao agir dessa forma, ela acaba por se machucar também (mesmo que não perceba).
A verdade é que eu desvendei um pouco desse mecanismo de defesa. Que segue o princípio do isolamento mútuo. O primeiro passo consiste em isolar a si próprio e o indivíduo que causou o incômodo na própria mente, como se colocasse uma bolha em cada um (de forma consciente ou inconsciente). O segundo passo é demonstrar esse isolamento, agindo como se não reconhecesse a existência da pessoa e fazendo-a perceber. O 3º passo se resume em ignorar a pessoa até que ela deixe de ser um incômodo. Por já ter presenciado isso algumas vezes, consegui me adaptar.
Mas como suportar isso sem desistir da pessoa? Como encarar algo assim com compreensão ao invés de revolta ou descaso? Não é tão simples, mas vou dizer como lidei com isso.
Ao perceber o 1º passo (se conseguir), sabotar o 2º. Não tem como sabotar o 1º passo. Qualquer tentativa de interferir no que a pessoa pensa, será considerada uma invasão e vai acelerar o primeiro passo. Na hora de demonstrar é que é a questão.
Quando a pessoa tentar demonstrar seu desprezo, você tem que quebrar o argumento de desprezo. Se ela der um olhar gelado, retribua com um sorriso (ou simplesmente a encare diretamente). Se ela tentar te ofender, escute atentamente o que ela disse. Se ela estiver certa, reconheça imediatamente. Se ela estiver errada, responda: 'talvez'. Ela vai tentar colocar ambos em uma bolha, você só tem que estourar a sua. Não tente estourar a dela, isso cabe a ela.
Com o 2º passo sabotado, o 3º é fácil de lidar (e, ao mesmo tempo, o mais desgastante). Mesmo que ela demonstre estar te ignorando, não conseguirá fazer isso por completo. Nesse caso, é importante não tentar estourar a bolha dela. É uma oportunidade que ela tem de olhar pra si mesma e aprender algo com a situação que ela mesma criou (conscientemente ou não). Basta deixar claro que ela falhou em colocar uma bolha em você. Mas não precisa fingir que isso não o atingiu. Se ficou chateado, demonstre que está chateado. Se alguém diferente dela perguntar o motivo, não diga (não é ético dizer isso a terceiros). Quando ela sair da própria bolha, aceite-a de volta naturalmente.
Dependendo da pessoa, isso pode acontecer mais de uma vez. Mas o fato é que você foi capaz de criar um laço que é impossível dela quebrar. Você é alguém com quem ela pode contar, incondicionalmente. Quando isso se tornar claro pra ela, sempre haverá brilho em seus olhos ao olhar pra você. Mesmo que ela nunca admita, você sempre será alguém importante pra ela.
Se for bem sucedido, mesmo que a provoque no futuro, no máximo ela te dará uns tapas quando você a irritar. E você saberá que ela está sendo amigável, mesmo sem perceber.
Dependendo da pessoa, isso pode acontecer mais de uma vez. Mas o fato é que você foi capaz de criar um laço que é impossível dela quebrar. Você é alguém com quem ela pode contar, incondicionalmente. Quando isso se tornar claro pra ela, sempre haverá brilho em seus olhos ao olhar pra você. Mesmo que ela nunca admita, você sempre será alguém importante pra ela.
Se for bem sucedido, mesmo que a provoque no futuro, no máximo ela te dará uns tapas quando você a irritar. E você saberá que ela está sendo amigável, mesmo sem perceber.
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