Desembrulhe e boa leitura

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segunda-feira, 1 de julho de 2013

Uma frase que revela o mundo.

Quando eu era moleque, por volta dos meus 14 anos (8ª série), minhas notas iam muito bem na escola. O que não era o caso de boa parte das pessoas da minha sala...
Certo dia, em casa, eu recebo uma ligação. Ia ter prova de matemática e o povo estava estudando na casa de uma colega que não ficava muito longe da minha.
Resumindo, tinham ligado porque queriam a minha ajuda. Tinham colocado uma das meninas mais bonitas da classe para falar comigo e tentar me convencer (na base da sedução)  a ensinar matemática pra todo mundo. Então eu disse que ninguém tinha me chamado pra estudar e questionei a consideração deles, afirmando que só ligaram pra mim porque estavam precisando. E disse que não iriam me manipular usando ela. Eles até poderiam dar a desculpa que achavam que eu iria recusar, já que minhas notas iam bem. Mas nem isso eles tiveram a criatividade de inventar. De qualquer forma, ficaram insistindo até que eu acabei aceitando a contra gosto.
Quando chego no local escuto um pequeno murmúrio , logo depois, uma voz que diz: "Não, pô. Eu gosto de Evandro."
Naquele momento eu parei e entendi tudo. A galera estava falando alguma merda de mim. Podia ser qualquer coisa, mas eu imagino que estavam dizendo que eu era alguma(s) dessas coisas: metido/ arrogante/ estranho/ chato/ anti-social. Eu não fiquei muito surpreso com isso. Eu fiquei surpreso com o fato de que a garota que tinha falado comigo no telefone tivesse dito que gostava de mim, discordando do resto do povo. Isso eu realmente não estava esperando.
Então eu me vi numa encruzilhada. Eu tinha acabado de comprovar que meus colegas não eram dignos da minha atenção, que dirá do meu esforço. Ao mesmo tempo, havia alguém que merecia de verdade a minha consideração ali. Minhas opções eram: Ir embora e deixá-los a ver navios (como mereciam), mas ter que abandoná-la também. Ou fingir que não ouvi nada e ensinar a maldita matéria, mesmo que os outros não merecessem. Também poderia dar um escracho na galera e revelar o que eu ouvi.
Até hoje, apenas três pessoas além de mim sabiam dessa história (até semana passada só duas). Então obviamente eu não escrachei com ninguém. Atualmente eu sei que deveria ter ido embora e me divertido com a desgraça deles (mereciam, afinal). Mas acabei dando a maldita aula de matemática, que eu aprendi na hora, pra poder ensinar (eu não havia estudado até então).
O que ela falou me mostrou naquele momento que havia em mim algo mais importante que minha raiva. Havia uma consciência de poder de escolha. Algo que me fazia vencer qualquer tipo de estupidez. Eu compreendi que meus colegas que falaram mal de mim estavam apenas sendo estúpidos. E eu já esperava que eles fossem estúpidos. Mas com as palavras dela eu entendi que a estupidez não é uma regra. 
Ao tomar minha decisão, não apenas eu fiz o que achava certo. Mas também diminuí a estupidez dos meus colegas. Não apenas no que diz respeito à matéria, mas também em suas impressões sobre mim. Mesmo que eles não percebessem, estavam enganados a meu respeito. Mesmo que eles não fossem dignos de minha consideração, poderiam beneficiar-se dela. E, pensando bem ou mal de mim, eu os ajudei. E isso ninguém poderá negar. Não sei se isso ajudou a criar um mundo melhor. Mas acho que foi a melhor coisa que eu poderia ter feito naquela ocasião.
Por mais estúpidas que sejam as pessoas em volta, qualquer um que possua consciência deve se libertar disso. Pessoas sábia ou inteligentes são raras, então se você é ou pode tornar-se alguém assim, não deve deixar que o ambiente te contamine. Existem pessoas que serão tolas para sempre. Mas a tolice não faz parte da natureza de todos. Em alguns é só uma tendência que reage ao mundo ao redor. E isso sempre pode ser mudado de alguma forma.

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