Desembrulhe e boa leitura

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domingo, 1 de dezembro de 2013

Um barquinho a deslizar...

Uma vez eu fiz um barco. Usei papel, aquarela e cera de vela. Foi numa aula de pintura. O professor elogiou o fato de eu ter feito uma obra tridimensional, embora tenha reclamado por eu ter acendido uma vela numa sala onde todo mundo tava manipulando papel. Mas eu não liguei pra isso.
Naquela mesma aula eu tinha pintado mais 3 quadros. E disse ao professor que iria dar o barco de presente e não poderia trazê-lo no dia da avaliação, mas mesmo assim ele disse que iria se lembrar e consideraria na hora de dar a nota.
Eu havia pintado a base do barco com tons de azul, pra fazer parecer que ele estava navegando. O barco parecia vivo. Um amigo meu pediu pra segurar pra olhar de perto. Eu mandei ele ter cuidado, pois era frágil, e o entreguei.
Ele parecia espantado com a simplicidade e originalidade daquilo que estava vendo. Quando me devolveu, ele afirmou: "Logo que eu toquei nesse barco, senti um arrepio". Eu não me impressionei.
Eu disse a ele que quando um artista faz uma obra verdadeira, uma parte da alma dele fica nessa obra. É por isso que, mesmo depois que morrem, alguns artistas são lembrados através de suas obras. É por isso que existem obras de arte capazes de realmente tocar o coração das pessoas. Por isso que algumas obras parecem ter vida própria.
Obras de arte são mágicas por natureza, porque carregam pedaços da alma de quem as faz. O processo de produzir uma obra de arte é uma espécie de ritual. Eu havia levado a tarde inteira para fazer o barco, enquanto fazia as outras pinturas no intervalo do processo. Não posso negar que aquilo era realmente especial pra mim. Por isso meu amigo sentiu um arrepio só de encostar no meu barco.
Havia um pedaço da minha alma ali.
Além do mais, aquele barco já tinha um destino.

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